sábado, 20 de junho de 2009

Essa foi uma das última obras de Quintana e reuniu 99 poemas inéditos, em sua maioria, breves e em versos livres, mas há sonetos também...



Os degraus
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Livro: A Cor do Inisível

Essa obra concentra versos curtos, até mesmo frases únicas, sonetos, poemas longos, algumas trovas ao gosto popular, e tudo isso com as características do grande poeta :o traço irônico, a expressão terna e a reflexão permanente sobre o poema e seu fazer.

Ah! Os relógios

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Livro: Preparativos de Viajem

Esse livro reúne muitos poemas metafóricos, se trantando da grande viagem da vida, a qual se dá através do tempo, e também fala da pequena viagem pelas ruas da cidade. Com o tom irônico de sempre, ao mesmo tempo nos traz um tom meditativo, da abordagem visual à emocional. E mesmo sutilmente erótica...


Poeminha sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Livro: Sapo Amarelo

Esse surpreendente livro é constituído de pequenos fragmentos, recordações de infância e pensamentos do autor. Quintana escreve belíssimamente sobre as coisas mais simples: uma paisagem depois da chuva, um amanhecer, o vento, a noite, os fantasmas, o sonho, o amigo, uma rãzinha verde, um sapo amarelo...



Livro: Apontamentos de História Sobrenatural

Esta é uma obra extensa, composta de 146 poemas que foi publicada inicialmente em 1976 e tornou-se um marco em sua bibliografia. A maioria dos poemas são curtos e em versos livres, entretanto há também sonetos e odes, e até poemas em prosa. O livro traz uma variedade de temas e formas. Foi nele que Quintana inaugurou sua infância, e cantou seu imenso cotidiano...



O MAPA
Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse

A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita

Das ruas de Porto Alegre

Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,

Tanta nuança de paredes,

Há tanta moça bonita

Nas ruas que não andei

(E há uma rua encantada

Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,

Poeira ou folha levada

No vento da madrugada,

Serei um pouco do nada

Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,

Suave mistério amoroso,

Cidade de meu andar

(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...

Livro: A Rua dos Cataventos

Esse foi seu primeiro livro como poeta, de 1940, composto inteiramente de 35 sonetos. Nessa obra Quintana se mostra um poeta nostálgico, com lembranças da infância, com olhar para uma rua imaginária, o qual varia entre a ironia e a melancolia.


A Rua dos Cataventos - II

Dorme, ruazinha... E tudo escuro...

E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?

Dorme o teu sono sossegado e puro,

Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos

Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...

Nem guardas para acaso persegui-los...

Na noite alta, como sobre um muro,

As estrelinhas cantam como grilos...

O vento está dormindo na calçada,

O vento enovelou-se como um cão...

Dorme, ruazinha... Não há nada...

Só os meus passos... Mas tão leves são

Que até parecem, pela madrugada,

Os da minha futura assombração...

Livro: Caderno H

Esse é um livro que destaca o poder irônico inciscutível de Quintana. Nele encontramos de tudo um pouco, em relação à gêneros textuais: poema, prosa, anotações líricas, crítica, anedota, epigramas, citações e, é claro, a poética e a retótica tão marcantes em sua obra...

POEMA
Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...

SINÔNIMOS
Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

O TRÁGICO DILEMA
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Livro: O Nariz de Vidro

O mundo poético deste livro é feito de ternura, melancolia, lirismo, nostalgia da infância e um humor irônico transparente!



sexta-feira, 22 de maio de 2009

Do Início ao Fim

Mário de Miranda Quintana, um dos maiores escritores brasileiros, nasceu em Alegrete no Rio Grande do Sul, em 30 de julho do ano de 1906. Em 1914 iniciou seus estudos e em 1915, concluiu o curso primário. Em 1919 matriculou-se no Colégio Militar de Porto Alegre, em regime de internato. Nessa época produziu seus primeiros trabalhos, que foram publicados na revista Hyloea, órgão da Sociedade Cívica e Literária dos alunos do Colégio. Em 1924 deixa o Colégio Militar e emprega-se na Livraria do Globo, onde trabalhou por pouco tempo. Em 1926 recebe o premio do concurso promovido pelo jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre, pelo conto "A Sétima Personagem". Em 1927 a revista carioca Para Todos publica um poema de sua autoria. Em 1929, começou a trabalhar na redação do diário O Estado do Rio Grande. Em 1928 a Revista do Globo e o Correio do Povo publicam seus poemas. Em1934 publica sua primeira tradução: "Palavras e Sangue", de Giovanni Papini. A partir de então traduz diversas obras para a Editora Globo. Em 1951 publica "Espelho Mágico", com a sugestão de Monteiro Lobato. Em 1943, começa a publicar Do Caderno H, espaço diário na Revista Província de São Pedro. Em 1946, lança seu 2º livro de poemas, "Canções". Lança, em 1948, "Sapato Florido", poesia e prosa e também "O Batalhão de Letras". Em 1950 publica seu quinto livro, "O Aprendiz de Feiticeiro". Em 1953 o livro "Inéditos e Esparsos" é publicado. Em 1962, reúne em um livro chamado "Poesias", os livros A Rua dos Cataventos, Canções, Sapato Florido, espelho Mágico e O Aprendiz de Feiticeiro, tendo a primeira edição, pela Globo, sido patrocinada pela Secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Sul. Em 1966 lança sua "Antologia Poética", com 60 poemas inéditos, que no mesmo ano recebe o Prêmio Fernando Chinaglia, por ter sido considerado o melhor livro do ano. Em 1973 publica "—Coleção Sagitário — o livro Do Caderno H". "Quintanares" é impresso em 1976 e também "Apontamentos de História Sobrenatural", mais um livro de poemas. Sua segunda seleção de crônicas é publicado em 1977, intitulada "A Vaca e o Hipogrifo". No ano de 1978 lança "Prosa & Verso", antologia para didática. "Na Volta da Esquina", coletânea de crônicas é lançado em 1979. Em 1980 publica mais uma obra de poesia, "Esconderijos do Tempo". Sua Nova "Antologia Poética" é lançada em 1981. É publicado, em 1983, o IV volume da coleção "Os Melhores Poemas". Em 1984 publica duas obras: "O Sapo Amarelo" e "Nariz de Vidro". O álbum "Quintana dos 8 aos 80" é publicado em 1985. Para comemorar seu aniversário de 80 anos em grande estilo, em 1986, lança a coletânea "80 Anos de Poesia". Em 1987, são publicados "Da Preguiça" como Método de Trabalho, uma coletânea de crônicas, e "Preparativos de Viagem", reflexões do poeta sobre o mundo. "Porta Giratória" é lançada em 1988, uma reunião de crônicas sobre o cotidiano, o tempo, a infância e a morte. Em 1989 publica "A Cor do Invisível". "Velório sem Defunto", poemas inéditos, é lançado em 1990. Em 1994 lança "Sapato Furado". No dia 5 de maio de 1994, próximo de completar 87anos, falece, em Porto Alegre.

POEMINHO DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!